29 dezembro 2005

É assim que junto a todos quero saudar o novo ano que se aproxima!...

Champanhe, lembranças e desejos



Sempre muita gente na sala.. grande animação. A casa decorada com flores brancas, uma mesa posta com comidas tão bonitas quanto deliciosas. Música, conversas animadas, lembranças revividas.
_ Mãe, então hoje posso dar um gole de champanhe? Já estou quase uma mocinha.
_ Ah meu amor, só um golinho para saudar o novo ano que chega.
A ânsia pela chegada do ano novo se multiplicava e já preferia ficar entre os mais velhos que correr pela casa com os menores.
De qualquer forma havia uma magia no ar.. vestíamos branco na maioria e me admirava o sorriso nos lábios de todos apesar de ver também algumas lágrimas aqui e ali em conversas mais íntimas. Seriam lembranças e momentos partilhados.. bons e tristes também.
Esse movimento fez parte de toda a minha vida. Fui crescendo.. passei a tomar mais de um gole de champanhe. Passei a entender melhor as lágrimas e a partilhar também as minhas e a somar nossos sorrisos com maior cumplicidade.
Outras crianças corriam pela casa e eu sempre me via entre elas.
Agora, depois da meia noite já não íamos dormir mortos de cansaço e continuávamos a conversa muitas vezes ainda mais animada. Foi nesta época que comecei a esperar sempre pelo primeiro sol do ano.. era um ritual vê-lo surgir.. são momentos que não há palavras para defini-los.. talvez eles tenham som.. tenham sabor.
Junto a alguns destas primeiras alvoradas do ano nasceu comigo amores, dores, conquistas, sonhos, desejos.. e a menininha do gole de champanhe se embriagava com a beleza da madrugada.. com a beleza da vida.
Cresceu, se apaixonou tantas vezes, sofreu e se desiludiu tantas outras. Estudou, se envolveu irremediavelmente com as artes, viajou, casou. Teve perdas, sentiu tantas dores e seguiu adiante em busca de sempre um novo sol. Um novo alvorecer. Um novo renascer. Casou, teve filhos, dois, os mais lindos, os mais espertos, os amores de sua vida. Amou e foi amada. Divorciou-se. Outra vez voltou a amar.. e outra vez voltou a sofrer. Escreveu cartas, poemas, poesias, contos. Talvez tenha se apaixonado pelas palavras, pelas palavras sentidas e escritas. Pelas palavras que muitas vezes não soube dizer, pelas que não pôde escutar, palavras que estão e sempre permaneceram firme diante dos seus sonhos, forte na sua esperança... Firme em suas convicções, frágil em suas emoções. Ainda uma menininha tantas vezes, mas uma mulher. Uma mulher que como aquela menininha ainda brilha seu olhar com coisas aparentemente simples e que principalmente acredita que a vida é na maioria das vezes bela e que as tristezas se espalham com o vento.
Hoje, tantos anos depois do primeiro gole de champanhe ergue sua mão com uma taça cheia e propõe a todos um brinde:
_ Que nunca deixemos de acreditar, de ter esperança, que nossos olhos não deixem de brilhar apesar das lágrimas que tenhamos que derramar, que nossas mãos sejam sempre firmes para amparar quem precisa, que nossa boca tenha sempre palavras bonitas e de conforto apesar do grito que muitas vezes se faz necessário, que nosso coração conserve a pureza mas que saiba distinguir o bem do mal e que não tenhamos nunca que ferir mesmo lembrando que a nossa liberdade tantas vezes foi conquistada com importantes revoluções. Que sejamos humildes para reconhecer nossos erros e mudar com eles, que saibamos amar.. nos entregando sem medo de sofrer e que nos deixemos ser amados.
Porque viver é assim. Uma busca eterna de renascimento.
Lembrou da sua mãe que já não mais brindava com taças de champanhe e olhou uma estrela que neste instante brilhou mais forte e intensamente no céu e ouviu a sua filhinha dizer:
_ Mãe, deixa eu dar um gole de champanhe hoje?
Sorriu entre lágrimas e disse:
_ Claro que sim meu amor! Feliz Ano Novo!

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