20 agosto 2007

A+
(POSITIVO)


Nunca tinha parado pra pensar na dimensão do ato de doar sangue até o dia em que precisei de uma transfusão. Era noite quando aquelas sacolinhas cor de amor chegaram ao meu silencioso leito do hospital.

Como me chamo A lessandra e vi impresso nos saquinhos minha inicial, e ainda de quebra um positivo bem à mostra: A+, pensei: é sinal de que tudo dará certo. Lágrimas escorriam dos meus olhos ao mesmo tempo em que pingavam gotas vermelhas em minhas esperançosas veias.
Contrapondo à penumbra do quarto, senti clarear minha vida na medida em que as gotas iam caindo dentro de mim. Uma sensação indescritível aquela, pois era mesmo de vida que me alimentava naquele momento. E de onde viria aquele sangue salvador? Quem seria aquele ser de luz que me enviara um presente tão raro, sem ao menos saber quem sou? Tá certo que meu aniversário se aproxima, mas seria muita coincidência acreditar em presente antecipado só pra me deixar mais cheia de vida. Só mesmo uma pessoa muito desprendida doa sangue e a alegria de receber nos faz ter a certeza de que podemos repartir algo de nós com quem quer que seja, até mesmo com um desconhecido. Isso é acreditar que dias melhores virão. É olhar adiante sem medo, sem preconceito, apenas cheio de boas intenções para com o próximo. E não me canso de pensar: um pouco de quem faz parte de mim agora? Um homem solitário à procura de um grande amor? Uma desempregada mãe de família? Um triste ator, uma dançarina, um caçador de sonhos, um enfermeiro, um negro, um índio, um presidiário de bom coração, um caboclo sonhador...que espécie humana tão linda vive em mim agora?

Quero dizer que o teu sangue me salvou e que amo você, doador. Outra coisa: me aguarde, pois assim que eu puder retribuirei da mesma forma e ainda te deixarei minha identificação: A+

Alessandra Cecília Loyo Cavalcanti

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