17 junho 2008

Visão curta. Visão diferenciada
A propósito dos meus recém feitos 45 anos

É difícil admitir que já não enxergo bem, quer dizer, quase nada, sem óculos. Tenho angústia quando minha filha me mostra algo pra ler e posiciona o papel naquela distancia terrível onde tudo é embaçado. Que desespero. Admito, ta bom eu admito, não enxergo mais nada de perto. De longe já não enxergava antes e assim sendo, concluo que já não enxergo nada. Estou cega. O tempo ta passando e eu percebo isso em mim mesma. Mas se a minha visão ocular encurtou sinto que a minha visão geral aumentou sobremaneira. Na verdade ter 45 anos é ter uma boa visão das coisas, das pessoas, da vida, dos acontecimentos... o que me encurta a vista cresce dentro de mim. Já não leio bem letras perto de mim mas percebo muito bem o significado delas ditas, espalhadas pelo mundo. Nestas palavras que vejo para além dos meus olhos percebo alegrias que saltam, realizações que se firmam, frustrações entre soluços, tranqüilidade branca da paz, percebo também em tons de vermelho, as guerras.. os avanços tecnológicos, a medicina entre tantas outras percepções. Eu vejo todos estes movimentos com uma visão diferenciada. Eu vejo os homens, eu vejo a mim com uma visão de quem já não grita, mas luta; de quem já não se desespera, mas chora; visão de quem já não mais corre, mas anda; visão de quem já não mais só sonha, realiza.

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