08 junho 2010

FIM DA IMPUNIDADE?

Depois de 21 anos, o marido de Maristela Just foi condenado a 79 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato da ex-mulher, ocorrido em abril de 1989, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, em Pernambuco. O julgamento de José Ramos Lopes Neto acabou por volta das 3h desta quarta-feira, que foi condenado também por tentativa de homicídio contra os dois filhos.

A sentença do júri popular, de homicídio duplamente qualificado e tentativa de homicídio qualificado, foi anunciada pela juíza Inês Maria de Albuquerque após cerca de 13 horas de julgamento no Fórum de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. A promotoria tinha pedido uma pena de 90 anos para José Ramos Lopes Neto , que não compareceu ao julgamento e é considerado foragido. A juíza confirmou que a prisão preventiva do réu foi pedida no dia 19 de maio, mas estava sendo mantida em sigilo para garantir a captura.

O primeiro julgamento do réu foi marcado para o 13 de maio, mas como ele e o seu advogado não compareceram, houve o adiamento. Desta vez, mesmo sem a presença dos dois, o julgamento ocorreu à revelia.

No começo da sessão, a juíza explicou que foi feita a busca do réu para que ele fosse intimado e preso, mas José Ramos Lopes Neto não foi encontrado nem em seu endereço próprio, nem na casa do pai, o advogado criminalista Gil Teobaldo.

- É um começo de um final. Acredito que uma das missões que eu tenho nessa vida é essa. Ele está solto por ai. E se ele decidir terminar o que ele começou? - indagou Natália Just, filha de José Ramos e Maristela, que tinha 4 anos quando foi baleada no ombro pelo pai.

A Defensoria Pública, que fez a defesa do réu, informou ainda que não foi procurada por ele.

- Desde o júri passado a gente já estava com dados do processo, já estudávamos. O tempo foi razoável. Até porque a gente só usa o que estiver dentro do processo, então conversar com o réu, às vezes, não muda muita coisa - contou o defensor público José Inaldo.

Estavam previstos depoimentos de seis pessoas, mas três delas foram dispensadas. Falaram apenas Natália Just e Zaldo Neto, filhos do casal e baleados no dia do crime, além do policial civil Harlan de Andrade, que esteve no local da morte de Maristela. Duas testemunhas arroladas pela defesa, Walter de Figueiredo Filho e Gilson Calábria, não foram localizadas, mas já tinham deposto em outras fases do processo.

A promotoria considerou a sentença justa, apesar de ter pedido pena maior.

- Estamos satisfeitos - disse o promotor Edgar Braz.

De acordo com a sentença, José Ramos Lopes Neto só pode recorrer da decisão se estiver preso.

Os crimes aconteceram há 21 anos. Maristela Just foi morta na casa dos pais, no bairro de Piedade, em Jaboatão de Guararapes. De acordo com as investigações, José Ramos Lopes Neto, que estava separado da mulher havia dois anos, foi à residência no dia 4 de abril de 1989. Lá, ele se trancou com Maristela e os filhos do casal em um dos quartos. José Lopes teria dado três tiros na ex-mulher, um tiro na cabeça do filho, então com 2 anos, e outro no ombro da filha de 4 anos.

O irmão de Maristela, Ulisses Just, foi baleado quando tentava socorrer a irmã e os sobrinhos. José Ramos, que é filho do advogado criminalista Gil Teobaldo, chegou a ser preso. Ficou por um ano no presídio Aníbal Bruno e prestou vários depoimentos. Foi solto depois de um habeas corpus concedido pela Justiça.

No julgamento marcado para o último dia 13 de maio, para frustração dos parentes e amigos de Maristela, o acusado e o advogado de defesa não compareceram e o júri foi adiado para esta semana. O advogado foi multado em 50 salários mínimos, o equivalente a R$ 25,5 mil, por não ter comparecido.

Os filhos de Maristela, que foram vítimas do próprio pai, escreveram uma carta endereçada aos desembargadores do Tribunal de Justiça. Natália e Zaldo Just tentaram sensibilizar os desembargadores para que eles negassem qualquer recurso da defesa.

- Nós crescemos com a impunidade. Foi uma ferida que sarou e hoje, após 21 anos, está sendo aberta novamente - disse Zaldo.

- A sociedade, o Brasil, Pernambuco precisa desse julgamento. Eu não digo condenação, porque a gente não sabe o que o júri vai decidir. Mas o julgamento deve existir até para o Estado tirar um pouco dessa vergonha - falou Natália, antes da condenação.

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