28 maio 2009

A palavra não é o limite


Admiração

admiro os sem dúvida
sobre quem servir
pela paixão com que servem
quanto a mim, admiro-me
por desgostar de ser vil
a quem quer que seja
por preferir, sem dúvida
a fraternidade que rema
contra a maré da servidão.

Pedro Américo concretiza o projeto de colocar a música a serviço da oralidade da poesia no audiolivro LinguarazNão há tema melhor para despertar polêmica nos debates universitários que a relação entre música e poesia. Seria a letra de uma canção popular literatura, ou mundos opostos e bem delimitados em suas diferenças? Uma discussão interminável, que na verdade precisaria ser colocada dentro de padrões de época. Houve tempos em que a poesia era feita para ser cantada, em outros, a cisão completa, mas não necessariamente definitiva. Ciente de toda essa polêmica e com desejo de se inserir nela, o poeta Pedro Américo lança amanhã, às 19h, no auditório da Livraria Cultura, Linguaraz, obra que literalmente apresenta a sua “voz poética”.
O projeto é bifronte: traz um livro de poemas acompanhado de CD. “Não sendo músico, quis sempre fazer um trabalho que casasse livro e disco em que meus poemas tivessem tratamento de composição musical, com direito a arranjos para percussão, guitarra elétrica”, explica Pedro Américo, cuja obra conta com participação de nomes como Silvério Pessoa, DJ Dolores, Yuri Queiroga e o próprio autor assumindo o vocal das composições.
“Excetuando os casos dos poemas O bailado dos olhos, Soma – sumo e Lei seca, o que aconteceu foi um processo de laboratório, em pleno estúdio, em que Yuri Queiroga, concentradíssimo na gravação de vozes e instrumentos, ia estudando caso a caso, sempre auxiliado de perto por Lucas dos Prazeres e ainda ouvindo a opinião dos demais componentes do trabalho, e assim gravando, arranjando e definindo o papel dos instrumentos no contexto de cada faixa”, explicou Pedro.
Linguaraz é um trabalho que cerca a poesia por todos os lados, de música por um, e pelos desenhos de Victor Zalma por outro: “Este não é um livro, é um audiolivro, mais ainda, como diriam os poetas concretos (que não gostam da palavra concretismo), trata-se de um trabalho verbi-voco-visual, não no sentido dos textos em composição de design na página, mas, diferentemente, um apelo mais aberto à idéia de um triângulo amoroso editorial entre o desenho, o texto e a música.”
Mesmo tão bem cercados, são nas palavras que os poemas de Pedro Américo ainda procuram um significado que se aproxime do sublime: “Gosto dos arcaísmos, e tenho descoberto que muitas palavras utilizadas por escritores modernos, e julgadas por leitores e até por ensaístas apressados, como neologismos, são, na verdade, palavras arcaicas fora de uso. Escolhi linguaraz, embora não traduza precisamente o conjunto deste trabalho. Apanho-a no seu melhor sentido de maledicente, não de uma maledicência sobre a vida alheia, mas de uma maledicência de quem busca definir a necessidade de a poesia se soltar um pouco da condição de refém do sublime”.

A Livraria Cultura convida para o recital de lançamento do audiolivro Linguaraz, de Pedro Américo de Farias.

29 de maio de 2009
18h30 Auditório da Livraria Cultura
R. Madre de Deus, s/n
Paço Alfândega Recife PE

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