13 julho 2009

O aroma do tempo

tela: Mão e rosto. Yeda Arouche

O aroma atravessa o nariz e lá vem a memória do tempo. O cheiro de coisa conhecida, vivida, sofrida, realizada. As buzinas dos carros voltam a incomodar e o passo das pessoas continua apressado. Crianças gritam e brincam e choram chamando por suas mães. Os vendedores anunciam seus produtos desesperadamente em busca de alimentar sua família. O aroma que agora toma conta de tudo e do todo, do tudo de mim, se materializa em ti e nos sentimentos que me fizeste viver. Os sorrisos vieram largos, repetidos e os olhares outra vez foram profundos, reveladores. Os gestos são todo carinho e o toque, suave em minha pele. As bocas se tocaram e trocaram confidências, juras de amor eternas. Os corpos e pensamentos se fundiram. O aroma sou eu e o que vi e vivi. O aroma é tu em mim outra vez. O aroma é a sombra do tempo que ficou.
Aperto minhas mãos contra o rosto e uma ultima, profunda e definitivamente vez o aroma recria em mim o que em mim o tempo desfez.
E já não há perfumes, lembranças nem toques nem olhares, já não há lugares, pessoas, passos, abraços e choros e soluços. Já não há juras de amor.
Agora o tempo é tempo, presente, real e ausente de memórias. Agora o tempo é tempo sem tempo que já veio e se foi vezes sem conta.


Liliana Miranda
13.07.2009

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