13 outubro 2009

Cores de Pernambuco

Luiz Otávio Cavalcanti


Mais que unidade política ou expressão econômica, Pernambuco são ideias. Federalismo, constitucionalismo. E cores. Azul, verde. Federalismo, segundo Evaldo Cabral de Mello, abrange o sentido republicano da revolução de 1824. Define dois liberalismos, o libertador e o repressor, de que fala Socorro Ferraz. Azul do céu, pintado pelo lírico Carlos Pena. Ou o verde-azul canavial, descrito pelo mineral João Cabral.
A história política pernambucana consagra palavras-chave. Que caracterizam nosso ânimo. Elas representam conceitos que os pernambucanos não largam. Resistência é outra palavra que significa linha de fazeres pernambucanos. Desde Pedro I. “Pernambuco não tem paz”, disse ele. Pois é, diante de absolutismos, não.
A resistência pernambucana tem três versões: resistência econômica, na convivência com a seca, no Semiárido, em mais de metade do nosso território. Resistência política, no Império, com maçons, religiosos e praieiros. E, na República, com Pelópidas, Arraes e Celso Furtado. Resistência social, de ideias. Na educação e na saúde.
Mas, o que quero dizer mesmo é que Pernambuco viveu três épocas: a era vermelha, encharcada de sangue rebelde que nos tomou por quase meio século, em 1817, 1824 e 1848. A era azul, nas décadas de 1950 e 60, feita do brilho intelectual de Paulo Freire, na educação, que ensinou os europeus a ensinar. E de Josué de Castro, na saúde, que mostrou ao mundo formas para superar a desnutrição endêmica. Ambos, evidenciando que, tanto num caso quanto noutro, a questão nem é social nem econômica. É política.
Finalmente, anos brancos, na ótica da Federação, que vão de 1975 a 2006. Foi tempo de desencontro federativo entre o governo de Pernambuco e a União Federal. Veja: em 1975, Moura Cavalcanti e o presidente Geisel não se entendiam. Geisel queria Marco governador. Deu-lhe a presidência da Câmara dos Deputados. Em 1980, Marco Maciel, então governador, tinha dificuldades políticas com o presidente Figueiredo. Faltavam afinidades. Em 1985, Roberto Magalhães rompeu com o presidente Sarney, desligou-se do PDS, filiou-se ao PFL e votou em Tancredo Neves contra Paulo Maluf.
Em 1987, Pernambuco continuou na oposição com Miguel Arraes e Sarney presidente. Em 1991, Joaquim Francisco rompeu com o presidente Collor, aliou-se a Itamar Franco. Em 1994, Arraes continuava oposição, dessa vez a Fernando Henrique. Em 1998, Jarbas se alinhava ao presidente Fernando Henrique. Mas Fernando Henrique pouco vinha a Pernambuco. Não admira a tropicologia de Gilberto Freyre. E não gosta do espírito autônomo dos pernambucanos. Em 2002, Jarbas era oposição ao presidente Lula. Finalmente, em 2006, Eduardo Campos é aliado de Lula.
Há outro conceito que impregna Pernambuco. E os pernambucanos não o abandonam. Já se encontrava no artigo 25 da Lei Orgânica da República de Pernambuco de 1817. Realçando o velho e ardoroso gosto pernambucano à livre expressão: “A liberdade de imprensa é proclamada, ficando, porém, o autor de qualquer obra sujeito a responder pelos ataques feitos à religião, à Constituição, bons costumes e caráter dos indivíduos na maneira determinada pelas leis em vigor”.

Publicado Jornal do Commercio em 13.10.2009
» Luiz Otávio Cavalcanti é ensaísta

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